terça-feira, 18 de dezembro de 2012

De Pés Molhados.


É muito difícil medir o tamanho do nosso pulo antes de encontrar a poça d’água. E a gente, não importa o tamanho da galocha, acaba sempre fugindo desses obstáculos, por medo de quê? De molhar a barra da calça?
Mas por que é que nós, ao mesmo tempo em que fugimos do que não nos fere, acabamos nos jogando, despidos de qualquer armadura, aos leões? A resposta muda de tempos em tempos na minha cabeça. O que penso hoje e aqui escrevo é que, por mais que a gente negue, a gente tem umas poucas certezas. A gente TEM QUE TER essas certezas. Poucas e importantes certezas.
O PASSADO É INSIGNIFICANTE. Sim, ele é o espelho da nossa história e conta muito sobre o que somos. Mas o que eu sou depende muito mais do que eu estou fazendo agora, do que das coisas que eu fiz. Nós temos o poder de mudar, a qualquer momento da nossa existência, para melhor ou para pior. A única coisa que importa é o futuro, que nada mais é do que uma página em branco que a gente pode preencher com as tintas que bem entendermos. Tirando das costas o fardo do passado, encontramos nos nossos pés a leveza necessária para saltos no futuro, cada vez mais altos, arriscados, excitantes e, sim, felizes. O presente nada mais é do que o momento em que passado e futuro se beijam. Esse encontro de lábios dura um tempo ínfimo, intangível, mas é suficiente para transformar o agora em história. E como é a minha história? O que é que eu quero ter pra contar?
E a gente pode DEVE ser maior. Basta que a gente queira. E querer não é poder, como as pessoas dizem por aí. QUERER É FAZER. E fazer não é nada fácil. Existem momentos na vida em que a gente precisa ser mais forte do que acha que pode, mais inteligente do que acha que é e mais nobre do que acha que consegue. E como é que a gente consegue? Querendo. E quando a gente quer demais uma coisa, a gente é capaz de feitos que a nossa mente nem consegue conceber. A gente mata um leão por dia. A gente acaba esquecendo das poças d’água, canalizando toda a nossa força para o embate inevitável com os predadores que a vida coloca na nossa frente. E são muitos.

Os sonhos são objetivos que a gente re-batiza desse jeito apenas para que pareçam inatingíveis. E o nosso salto pode ser do tamanho que a gente conseguir imaginar. Basta que a gente perca o medo de molhar os pés.

Novo de Novo.


Obedecendo a ordem que meu coração me deu de voltar a escrever sem métrica, tempo ou medida, sem melodia, sem ritmo nem rima, aqui e agora, eu volto a borrifar ao vento os sentimentos que não consigo falar.

Atendendo a pedidos, cá estou. Volte sempre.



(e o que eu fiz com os outros mais de 300 textos que escrevi desde 2008? 
- guardei em um lugar seguro)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

coleção

Têm quem colecione selos, garrafas, figurinhas de álbuns de infância, carros. E tem eu, que coleciono relacionamentos mal acabados. Tudo começou na faculdade quando por algum motivo eu pensei que não precisava terminar um “namoro” que na verdade nunca existiu. Esqueceram de me avisar que meninas são complicadas até nisso, para ela existiu. Depois disso veio meu primeiro namoro de verdade que também nunca teve um fim oficial.
Eu admito, sempre tive dificuldade com despedidas. O momento do tchau não é um dos meus preferidos. É que dói aceitar que uma pessoa que por um tempo dividiu tudo com você, em algum momento não vai mais estar ali, e é você que esta fazendo assim.
Com pontos finais, vírgulas ou reticências a vida sempre seguiu. Os anos foram passando e a coleção, consequentemente, aumentando. Nunca consegui me livrar desse problema em dizer “adeus”.
Hoje tenho mais relacionamentos mal acabados do que amigos. Admito que alguns deles eu gostaria de por um ponto final, é que a convivência parece mais leve quando feito isso. Existem aqueles os quais eu nunca quis por sequer uma vírgula, mas os caminhos da vida fizeram assim. E têm aqueles os quais as reticências ainda dão esperança de que a história um dia continue.
Empoeirada na estante de cima da memória essa coleção parece longe de ter um fim. E sabe-se lá quantas peças novas ainda posso agregar a ela. É que a cada esquina a gente pode trombar com alguém, nunca se sabe os caminhos que a vida leva até trilhar por eles.
Eu posso começar uma nova história e dar a ela um final descente, eu posso começar uma nova história e fazer com que ela não tenha um fim. Eu posso pegar um desses relacionamentos mal acabados e dar a eles um novo fim. Verdade seja dita, estou cansado de finais. Talvez eu só precise mesmo é de uma continuidade.
No último item da minha coleção eu guardo também sorrisos, olhares,  beijos e promessas. A vírgula que transforma em ponto final, e a dor de ainda se encontrar nas reticências.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O baile

Toda máscara tem duas aberturas na área dos olhos, para que, mesmo quando privamos o mundo de ver nossa verdadeira face, consigamos, mesmo assim, enxergar. Com a idade, as pessoas vão, aos poucos descobrindo que é tão cômodo, é tão mais seguro esconder a fisionomia, que passam a achar que não vale mesmo a pena presentear o mundo com transparência.
No entanto, são justamente os olhos que desmentem as máscaras. Eles estão e estarão para sempre lá, descobertos. E eu, da mesma forma que você, mesmo vivendo num interminável baile de máscaras, já aprendi a olhar através da porcelana, a fitar os olhos tristes que estão logo acima do sorriso radiante.
No entanto, o que eu enxergava era tão bonito que me parecia apenas a mais bela máscara do baile, uma plástica distração que me transformaria em joguete, hipnotizada por aquela face que ostentava dolorosa beleza. Até hoje apalpo teu rosto procurando emendas, desníveis, vestígios de cola ou encaixes bem-feitos, sem sucesso algum. Me deixei ser levada por tamanho encanto, e sigo flutuando em simples nuances de voz, sussuros inesperados e intrincados escritos

Abriu-se uma roda. Somos o par que dança alegremente entre os mascarados, sentindo na pele do rosto a brisa de lança-perfume que faz parar o tempo, devidamente despidos das máscaras.


O conformismo do eu

A vontade nunca foi a de ser uma unanimidade, aliás, deve ser entediante sê-la. Sempre fui um pouco audaciosa, um pouco diferente,  um pouco apontada, um pouco falada. Tantos poucos que, inevitavelmente, acabaram por me tornar também um pouco polêmica.                                                                                                                                                        Existem vezes em que tenho o ímpeto de gritar mais alto contra aquilo que ouço, outras em que me restrinjo à mudez inconformada. Posso correr pra longe mesmo que respeitando a retidão das linhas, dos pensamentos, das crenças e não importa o esforço para não pisar fora do espaço tracejado, ninguém faz questão de admitir enxergá-lo. Aos olhos dos outros as atitudes são uma constante insuficiência, a assinatura dos documentos está sempre a passar  da validade e cabe às palavras se perderem em algum lugar do espaço.
Sempre fui um pouco pré-julgada.
O esforço, a vontade ou o merecimento, pouco valem. A gente não consegue fugir do que é, nem do que disperta espontâneamente – ou não! – na sentença dos outros. Seja ela justa ou nem tanto.  E sabe o que?  O tempo ensina a lidar com essa circunstância e a matar a sede de querer mudá-la a qualquer custo.
Sou um divisor de águas. Duvido do dia em que entrarei em algum pedaço desse mundo, irei me deparar com mais uma pequena fração dentre o grupo de 6 bilhões de habitantes e não dividirei as mais opostas opiniões.

Mas eu? Eu sempre fui infinitamente mais exigente do que a banca julgadora.

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto

Precisamos de bolsos muito maiores, pensei ao deitar na cama, contando os sete minutos que uma pessoa leva em média para dormir. Precisamos de bolsos gigantescos, bolsos grandes o suficiente para nossas famílias, nossos amigos e até mesmo as pessoas que não estão em nossa lista, pessoas que nunca conhecemos mas ainda sim desejamos proteger. Precisamos de bolsos para distritos e cidades, um bolso que pudesse conter o universo.
Oito minutos e trinta e dois segundos…
Mas eu sabia que não podia haver bolsos tão gigantescos. No fim, todo mundo perde todo mundo. Nenhuma invenção poderia evitar isso, portanto me senti, naquela noite, como a tartaruga que tinha sobre si o resto do universo.
Vinte e um minutos e onze segundos…

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Há quem fale em séculos, eu só penso no minuto que passa .

A gente passa a vida inteira se perguntando quem somos, e ignorando o fato de que podemos ser qualquer coisa que quisermos. O desejo de escolha por ser algo, é atribuído ao nosso corpo desde quando choramos pela primeira vez, desde que soltamos ao mundo nosso grito de chegada, e passamos os retos dos dias procurando novas maneiras de se fazer isso. De gritar e avisar o quanto vivemos e queremos um lugar. Lugar esse que se encontra totalmente inserido em nós. Embora, possivelmente poucas pessoas sejam capazes de notar tal estabelicento, o restante luta todos os minutos por outros lugares. Na vida de alguém, em um campo ocupacional, em uma fileira de cinema. Deixamos nos dominar pelo auto conhecimento que se estabelece através de coordenadas de onde nos encontramos. Estou aqui, por isso, sou o que sou. Não. A realidade esta tão perto. Se encontra tão ao nosso alcance. Toquemos nossas mão e somos capazes de sentir nossa real moradia. Nosso desejo de ser o que somos independente de onde estamos. Somos aquilo que nossas atitudes frequentes nos mostram. Somos aquilo que sentimos, aquilo que amamos. Somos tudo que somos capaz de sonhar em ser.
Toquemos novamente nossas mãos, para sentirmos toda a capacidade de escolha do ser.
Nosso lugar.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

não passa



 Não era a primeira vez. Também não era a segunda. Talvez a terceira, não sei ao certo... Fui avisada que a cada vez seria diferente, que seria como se fosse a primeira, que voltaria ao começo, mas isso não fez com que eu estivesse mais preparada. Não importa quantos fins nós enfrentamos, esse não é o tipo de coisa que se acostuma, que fica fácil de se fazer. Não é o tipo de coisa que nos preparamos. A gente nunca acha que será preciso virar fim. Viramos tanta coisa em vez disso, viramos textos, poesia, bares e livros. Viramos dor para não virar fim. Mas até a dor se cansa de nos visitar, até olheiras cansam de serem expostas e o bares são limitados. Ai começa tudo de novo. Choramos, agarramos nossas pernas, ficamos todos encolhidos para recordarmos que não é a primeira vez. O maior consolo vem do nosso próprio abraçado, os melhores conselhos vem do nosso passado, nossas decisões vem com o tempo disso tudo. A gente não cansa de lutar, não cansa de receber socos no estomago, nem de querer ir em frente, mesmo deixando partes de nós mesmo pelo caminho. Não é cansaço, pelo contrario, é força. É força para lembrar que das outras vezes a gente prometeu que merecíamos coisa melhor. E tivemos. Por um tempo. Nada que é muito bom por pouco tempo é bom o suficiente.O melhor dura, se faz durar. Se faz presente, se faz único. Não adianta ser inteiro em certos momentos e metade nos momentos errados. Tem que fazer valer. Saímos da ilusão de que esqueceremos no dia seguinte, e do sofrimento pelo fato que não será assim. Nós nos conformamos. Sabemos que ainda haverão choros, músicas com carga máxima de lembranças, e saudade. Vai vim angustia nas noites do final de semana, vão haver borboletas no estomago quando o celular e campainha tocar, vai haver morte de todas elas ao percebermos que quem seguiu em frente não foi apenas nós. Mas ai a gente lembra que passou. Alguns demoraram mais que outros, mas passou, sempre passa. Mas só passa quando a gente aceita isso, quando permitimos que passe. Não passa se acharmos que saindo de mini saia ela ficara com ciume, não passa se tivermos esperança de esbarrarmos com ela pelas ruas, não passa quando ainda tem depois. Tentando lembrar de quais livros li das outras vezes, de quantas vezes sai por semana, ou se preferiria ficar em casa, se lembrar das coisas ruins tornavam mais fácil ou apenas mais dolorido. Mas não adianta, é sempre como se fosse a primeira vez. De novo é apenas comigo. Seguir os conselhos que tanto dei pelas rodas de amigos. Seguir meus conselhos. Meus passos. Não, não fica fácil de fazer depois das primeiras vezes. Fica fácil de acreditar que da para ser feito. Passou das outras vezes. Tão difícil quanto, mas passou. Deve passar dessa vez também.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Fraturas, dias frios e solstícios


Tudo pode ser facilmente comparado a um acidente grave que causou uma fratura.
Logo após o acidente, você é levada a férias na Patagônia, no inverno, sem consulta prévia. Fica lá por semanas, perdida, sem motivos para querer aquecer-se e sair. Quase morre de hipotermia. Nem é preciso descrever a dor excruciante que tudo isso causa na fratura. Depois de um certo tempo até consegue sair de lá, ir para uma cidade com clima temperado, onde as noites são um pouco frias demais, solitárias, e a fratura incomoda um pouco. Com o decorrer do tempo se acostuma, junta dinheiro, muda-se para outra mais quente e sem períodos de frio. Ela não lhe incomoda mais.
Você encontra atividades que sempre te deixem aquecida, fazendo assim com que esqueça que a fratura existe. Só que, quando menos espera vem um solstício de inverno, e a noite mais longa do ano é também a mais fria e dolorosa. Você não encontra paz, apenas dor. A fratura, que parecia curada, incomoda e muito. Não apenas ela, mas a marca que o tempo deixou em sua pele. A marca é o que mais incomoda, não a fratura em si. Ela já está curada, não é mesmo? Mas todos sabemos que quando você quebra um osso, mesmo logo após muito tempo, em dias frios ela sempre vai te incomodar, aquele osso sempre vai doer. Vez em quando você será levada a uma cidade fria, por algumas horas talvez, não mais dias inteiros. Solstícios ocorrerão duas vezes ao ano, o que mais te incomodará acontecerá apenas uma vez. Depois você aprende a burlar a noite mais longa e fria do ano, aprende a se agasalhar e ficar bem. Analgésicos e cobertores serão seus melhores amigos. A marca talvez não te incomode mais.

Porque o pior de tudo não é o acidente, mas sim a marca que ele deixou em você.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Tenho escrito menos...

...E vivido um pouco mais. A literatura de meus dias perdeu o caráter de microconto. Virou romance que não mais se capitula em poucos parágrafos. Muitas vezes abandonei em branco o texto, pois olhava, míope, para dentro de mim e nada via senão o nebuloso vulto da ulceração que ainda gritava em vermelho. Precisava encontrar um caminho para a superfície, mas no fundo daquele poço encontrei um par de lentes.
O romance nos desafia a convicção, por vezes tira a paciência, e pode até nos subtrair alguns anos da vida, mas quando é que alguém, por um segundo que fosse, cogitou – a sério – viver sem ele? Nossas aspirações vão, cada vez mais, aproximando-se da realidade; a gente passa a prometer menos, mentir menos, e chega até a achar que, dessa vez, erraremos menos, por julgarmos saber onde escondem-se todas as bombas desse campo minado. Nem preciso lembrar que a única certeza no romance é a de se estar eternamente em apuros, saracoteando as pernas para não se deixar afundar totalmente no obscuro e indecifrável oceano que é a vida daquela pessoa com a qual estamos de mãos dadas.
Em apuros pois é perigoso. É perigoso porque a gente arrisca. E a gente arrisca porque quer. Ninguém nos obriga a viver o amor, mas a gente ama vivê-lo. Ninguém nos obriga a sentir as mesmas dores de novo, mas a gente se quebra em mil pedaços para sentir o prazer na cura. A gente acha que pode viver sem, mas as palavras soluçadas no fim de uma noite ébria evidenciam o que, para todos ao nosso redor, já era óbvio: estamos fodidos.
Em apuros não estou só eu, estamos todos nós, meus caros. Romance é o que se persegue pelas esquinas, que foge à luz dos postes, e ele está bem. Em perigo estamos nós, nesse apuro que reside na nossa urgência em vivê-lo. Vivê-lo, mesmo que torto, inacabado, ferido, precipitado, errado, proibido, ou impossível. Vivê-lo de verdade, com intensidade e sem escudos. Como deve ser, e como inevitavelmente é, quando nosso coração nos dá aquela única e inevitável rasteira que nos faz quicar no chão.

Viver o romance é estar em apuros
.
Estou vivendo, e não quero ser salva.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Faz pose, garçom.

Não sei se é o Kid A rolando no repeat há 5 dias. Não sei se é fruto do ócio repentino de 2 dias inteiros prenchidos por pensamentos que me pareciam pesadas nuvens cor-de-chumbo. Também não sei se é o déficit entre a verdade que as pessoas projetam e o que realmente sou. Eu simplesmente não sei.
Também não sei se é o tempo passando, aos poucos me transformando naquilo que eu sabia que iria me transformar. Eu só não sabia quando aconteceria, nem como me sentiria. Poderia, também, ser aquele sentimento em mim depositado em doses homeopáticas. Pode ser um monte de coisa. E pode ser nada. Pode ser apenas: eu
Alguém aí já se sentiu assim? Sentindo tudo?
Hora de maneirar na cerveja solitária, depois da meia-noite.



{ São 3:50 da manhã e não sei mais se eu quero dormir.}

terça-feira, 12 de junho de 2012

Síndrome

Existe uma estrada sob os meus pés. Ela termina toda vez que chego em casa, tarde da noite. O que vejo após a derradeira parada, é o fim desse chão. Se eu prosseguir em minha caminhada, ignorando quaisquer placas de sinalização e advertências verbais de amigos, sou engolida por esse infinito precipício.
E eu não paro.
A queda, até o momento, não parece ruim, embora eu não negue que me incomoda não saber quando me chocarei com o chão. O ar, utilizei todo ele na tentativa de gritar. Ninguém ouve. Não daqui, onde estou. Eu poderia ficar sentada à borda desse penhasco, observando todos os que, caminhando ao meu lado, decidiram encerrar ali suas jornadas. Desobedeço… sempre. E, uma vez sem ar, resta a mim conferir se me calarei com o impacto ou por apneia. Ansiedade?
E eu não paro.
E quem tentou me seguir ficou pelo caminho, por medo de um ou outro precipício. “O que é que tem ali?”. Antes de me fazer essa pergunta, já me encontro lá.
Alguém me faz parar de olhar essa foto. Alguém nada, TU.
Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta, afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao alcance dos teus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada capaz de me apagar.
Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de uma noite qualquer. Uma dessas em que tu vagas por aí sozinha, trocando pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível aos teus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na meia-hora seguinte.
Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até mesmo ao mais insuspeito dos teus sinais Meus joelhos doem, guria, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio, tenho certeza de que não me ouves.

Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.

E eu não paro. Me para.

Síndrome - {grupo ou agregado de sinais e sintomas de causa desconhecida ou em estudo ou conhecida posteriormente}

domingo, 27 de maio de 2012

não era Capitu...

mas tinha olhos de ressaca.


L - Eu preciso vomitar
*- Bulimia? rs
L- Antes fosse
*- Ah se fosse estupro, ah se fosse paixão rs
L - Ah se fosse...
*- Você está muito de ressaca? rsrs
L - Essa ressaca tem outro nome, outros nomes, nossa! muitos nomes...vou vomitar!



Ilusão de Ótica 14.

Tudo parecia uma enorme pintura abstrata onde nada acontecia, além do movimento de gente passando pra olhar.
Eu cansei de passar pra olhar e decidi ficar ali, fitando aquela gravura, pelo maior tempo possível. Suas cores eram tão vivas e constrastantes que pareciam lutar umas com as outras. As pinceladas eram tão firmes e, ao mesmo tempo, aparentemente aleatórias, que pareciam ferir a tela. Eu tecia todo tipo de comentário a respeito da obra para mim mesma, enquanto todos os outros apenas passavam desatentos, perguntando uns aos outros onde ficavam as pinturas realistas.
De real, basta o mundo. Eu quero é partir em busca do que é incógnito, improvável e incorreto. Eu vejo sentido no abstrato e, sim, muita vida no que muitos convencionaram chamar de 'natureza morta'.
O que é mais abstrato do que o amor? Ele não tem forma nem cor, mas é o que me faz parar o coração. A gente busca incessantemente essa sensação de enfartar de amor, de sentí-lo pulsando e estourando nossas veias. Que outra coisa nos leva a isso? O que mais justifica todos os poemas, todas as músicas, toda a angústia e inspiração do mundo?
Só ele, o amor. A pintura abstrata que muita gente já não aprecia mais. Em busca de retratos reais, a gente se joga nas cordas do comodismo, esquecendo o verdadeiro motivo de estarmos aqui.


Não consegui dormir, pensando nisso, e em inúmeras outras coisas. É vida em excesso. É muita informação pra uma cabeça só.

domingo, 20 de maio de 2012

Episódio 1: Presidente Castelo Branco

Chegando ao fim de seu percurso, ainda ofegante, ela deposita todo o peso de seu tronco sobre as mãos nos joelhos e fala a si mesmo uma porção de coisas que, aos ouvidos alheios, não têm nexo algum. Ela balbucia as mesmas lamúrias repetitivas que sempre fizeram parte da sua vida, como se lhe fossem combustível vital e imprescindível para o funcionamento do coração.
Com parte do fôlego recuperada, ela torna a andar, procurando nos olhos dos passantes algum vestígio do semblante daquela que ela tanto procurou. Percebe estar totalmente perdida, e resolve perguntar ao homem que ali estava sentado, entoando canções em troca de moedas:

- Aonde foi que eu errei?

- O brilho que emana da tua alma pode ser visto a qualquer distância. O teu erro foi querer mostrá-lo a uma moça cega dos dois olhos.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

escrever amor nos braços dela

 Queria ser o melhor que posso ser, porque de algum jeito conclui que era o que você merecia.
Repeti na minha cabeça o quanto te queria pra mim, inúmeras vezes. Por todo tempo, o tempo todo.

Quis saber o que você faria se te confessasse que sou tua.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O que é que o teu reflexo diz?

 O que seu espelho mostra pra você, quando você está de frente pra ele? O que é que você diz de você mesmo, do que você faz, do que você fez, do que você pensa? Seria possível tamanho distanciamento de si mesmo, a ponto de tecermos uma auto-avaliação que não seja contaminada pela nossa vaidade?
 O que tenho descoberto é que, a cada dia que passa, nós, que acreditamos em nós mesmos, vemos no reflexo algo cada vez mais parecido com o que sonhamos. Que fique claro que não me refiro, aqui, à imagem física, às aparências e às enganosas armadilhas que essas nos colocam pelo caminho. Eu falo de sonhos, e de objetivos, que nada mais são do que sonhos dos quais a gente realmente está correndo atrás. Eu falo de missões que a gente dá a si mesmo. Estamos cumprindo? Estamos, ao menos, tentando cumprí-las? Será que a gente sabe qual é a nossa missão aqui?
O espelho pode nos dizer isso melhor do que ninguém. Estou cansada de gente que não consegue olhar nos olhos, pura e simplesmente por não saber que é atrás dos olhos que se encontra a nossa alma, nosso verdadeiro ser. Essas pessoas não conseguem nem olhar nos seus próprios olhos, pois sabem que vão ver o que não querem, mas sabem o que é. Sabem que estão em débito para consigo mesmos, e não se demonstram interessados em saldar essas dívidas.
 Falando assim, posso parecer feita de certezas, quando, na verdade, não passo de uma mulher cheia de dúvidas. Mas são essas dúvidas que me guiam atrás de respostas. E o que eu digo aqui, eu aprendi durante essas buscas infindáveis. Quantas vezes acabei encontrando uma pergunta ainda mais inquietante, quando tudo o que eu queria era uma resposta curta e certeira. Não há. Nunca houve. Algumas delas o espelho me conta, quanto a outras, me dá somente dicas confusas. E tem também aquelas que são tão complicadas que eu nem sei por onde começar a perguntar. E é por não ter respostas para tudo que eu acabo escrevendo pra mim mesma essas perguntas. Um dia eu vou saber responder.


http://bloogdafe.wordpress.com/tag/to-write-love-on-her-arms/

segunda-feira, 14 de maio de 2012

tire essa armadura se tu queres é lutar

Você se esquece que te foram dados dois braços justamente para que você tenha como carregar o escudo e a espada. Então o que é que você faz com dois escudos? E por quê essa armadura envolve teu corpo, e esse muro envolve tua casa?
 Saia para caminhar comigo e sinta o peso dos seus dois escudos. Tente equilibrar-se, lutando contra o forte vento que te quer levar com ele para onde quer que seja. Eu caminhei por tanto tempo com escudos iguais aos teus que, hoje, livre, meus passos são (des)cuidadosamente rápidos. Eu demorei, mas consegui me despir da armadura e me desprover dos escudos. Hoje eu aposto comigo mesmo quantos passos eu consigo dar com os olhos fechados. Isso me instiga.
 Na verdade, eu adoraria, de olhos fechados, me espatifar contra o teu muro. Já tentei uma vez, sim, aquela vez em que tomei uma rasteira. Mas vou tentar denovo e denovo, até que teu sono seja abruptamente interrompido pelo quebrar de meus ossos. E não vai ser só a sua armadura que eu vou tirar.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A realização é droga.


E não foi qualquer show. Foi um show de graça, no olho do furacão da segunda ou terceira maior cidade do mundo. Quantas pessoas ali? 20mil? 30mil? 50mil? 
Foram espremidos em 60 minutos um setlist que tinha novidade, velharia, alguns hits e muita trilha-sonora pra bater cabeça, pois eu viajei 600km para bater cabeça.
Voltando pra Minas Gerais, cadê as ruas engarrafadas de São Paulo? Todas vazias, de um jeito que chega a dar medo. E, ali, ninguém jamais poderia estar mais feliz do que eu,. Apenas eu, o barulho quase nulo das catracas, o vento fazendo zumbido passando pelos alargadores, e a Anhanguera vazia.

Eu preciso virar astronauta.

Eu poderia dizer que não quero mais nada da vida, mas eu quero, sim. Eu quero sentir isso mais vezes e, se possível, de formas ainda mais intensas. Eu não quero estar pronto para a próxima, eu quero é me surpreender. E que seja bonito do jeito que foi hoje. E que seja de verdade como sempre foi.

A realização é droga, veneno e combustível.

E, que o céu, em sua ilusão de paraíso merecido, seja uma avenida infinita.

Sem freios, sem chefes, sem deuses, sem nada.

Só eu e meus ensurdecedores pensamentos.

  


- parafraseando Lucas Silveira