Toda máscara tem duas aberturas na área dos olhos, para que, mesmo
quando privamos o mundo de ver nossa verdadeira face, consigamos, mesmo
assim, enxergar. Com a idade, as pessoas vão, aos poucos descobrindo que
é tão cômodo, é tão mais seguro esconder a fisionomia, que passam a
achar que não vale mesmo a pena presentear o mundo com transparência.
No
entanto, são justamente os olhos que desmentem as máscaras. Eles estão e
estarão para sempre lá, descobertos. E eu, da mesma forma que você,
mesmo vivendo num interminável baile de máscaras, já aprendi a olhar
através da porcelana, a fitar os olhos tristes que estão logo acima do
sorriso radiante.
No entanto, o que eu enxergava era tão bonito que
me parecia apenas a mais bela máscara do baile, uma plástica distração
que me transformaria em joguete, hipnotizada por aquela face que
ostentava dolorosa beleza. Até hoje apalpo teu rosto procurando emendas,
desníveis, vestígios de cola ou encaixes bem-feitos, sem sucesso algum.
Me deixei ser levada por tamanho encanto, e sigo flutuando em simples
nuances de voz, sussuros inesperados e intrincados escritos
Abriu-se
uma roda. Somos o par que dança alegremente entre os mascarados,
sentindo na pele do rosto a brisa de lança-perfume que faz parar o
tempo, devidamente despidos das máscaras.