Não era a primeira vez. Também não era a segunda. Talvez a terceira,
não sei ao certo... Fui avisada que a cada vez seria diferente, que
seria como se fosse a primeira, que voltaria ao começo, mas isso não fez
com que eu estivesse mais preparada. Não importa quantos fins nós
enfrentamos, esse não é o tipo de coisa que se acostuma, que fica fácil
de se fazer. Não é o tipo de coisa que nos preparamos. A gente nunca
acha que será preciso virar fim. Viramos tanta coisa em vez disso,
viramos textos, poesia, bares e livros. Viramos dor para não virar fim.
Mas até a dor se cansa de nos visitar, até olheiras cansam de serem
expostas e o bares são limitados. Ai começa tudo de novo. Choramos,
agarramos nossas pernas, ficamos todos encolhidos para recordarmos que
não é a primeira vez. O maior consolo vem do nosso próprio abraçado, os
melhores conselhos vem do nosso passado, nossas decisões vem com o tempo
disso tudo. A gente não cansa de lutar, não cansa de receber socos no
estomago, nem de querer ir em frente, mesmo deixando partes de nós mesmo
pelo caminho. Não é cansaço, pelo contrario, é força. É força para
lembrar que das outras vezes a gente prometeu que merecíamos coisa
melhor. E tivemos. Por um tempo. Nada que é muito bom por pouco tempo é
bom o suficiente.O melhor dura, se faz durar. Se faz presente, se faz
único. Não adianta ser inteiro em certos momentos e metade nos momentos
errados. Tem que fazer valer. Saímos da ilusão de que esqueceremos no
dia seguinte, e do sofrimento pelo fato que não será assim. Nós nos
conformamos. Sabemos que ainda haverão choros, músicas com carga máxima
de lembranças, e saudade. Vai vim angustia nas noites do final de
semana, vão haver borboletas no estomago quando o celular e campainha
tocar, vai haver morte de todas elas ao percebermos que quem seguiu em
frente não foi apenas nós. Mas ai a gente lembra que passou. Alguns
demoraram mais que outros, mas passou, sempre passa. Mas só passa quando
a gente aceita isso, quando permitimos que passe. Não passa se acharmos
que saindo de mini saia ela ficara com ciume, não passa se tivermos
esperança de esbarrarmos com ela pelas ruas, não passa quando ainda tem
depois. Tentando lembrar de quais livros li das outras vezes, de quantas
vezes sai por semana, ou se preferiria ficar em casa, se lembrar das
coisas ruins tornavam mais fácil ou apenas mais dolorido. Mas não
adianta, é sempre como se fosse a primeira vez. De novo é apenas comigo.
Seguir os conselhos que tanto dei pelas rodas de amigos. Seguir meus
conselhos. Meus passos. Não, não fica fácil de fazer depois das
primeiras vezes. Fica fácil de acreditar que da para ser feito. Passou
das outras vezes. Tão difícil quanto, mas passou. Deve passar dessa vez
também.