domingo, 5 de dezembro de 2010

à minha rainha


* Ás vezes vejo-me como uma desajeitada construtora de castelos feito de sonhos. Estou a todo momento erguendo castelos, por vezes vários ao mesmo tempo, em outras vezes, meras aglomerações de entulhos de promessas com nenhuma pretensão arquitetônica. Na pressa da minha construção, deixo de perceber que de nada servem lindos palacetes se eles só têm lugar pra mim. Construo torres altíssimas e esqueço de pôr janelas. Ergo quartos sem porta, túneis sem saída. Mas pra quê?

* Pra construir. A realização está no empilhar de tijolos, e não na placa de "vende-se" do castelo pronto. Está nas escolhas, está nos erros e nos acertos. Eu sou apenas um dos muitos castelos construídos por essa mulher da foto. Eu sou apenas um empilhamento de desajeitados tijolos que, por milagre, não viram ruínas, mesmo diante de todas essas tempestades.

* E, mesmo quando o vento consegue derrubar um dos meus pilares, me alegra ver que tenho gente pronta pra me reformar. São remendos, rebocos, estacas e escoras. É cimento, é argamassa, é durepóxi, pode ser até goma de mascar. Guardo comigo esses remendos, bem como a fisionomia de todos que se prontificaram a me arrumar. E sempre que faz sol eu saio pela rua pra erguer paredes que caem a todo minuto. Retribuir.

* Não tenho medo de dizer que sou igualzinha a você, inclusive nos detalhes, nas paredes que caem, nos alicerces bambos e na tinta que já não tem mais o brilho. Fico feliz em ver o quão forte tu és, pra comportar tantos hóspedes no teu coração.

* Tenho aberto cada vez mais portas e janelas. Tenho saído mais do meu castelo. Tenho feito de tudo para que a nossa distância seja cada vez menor.

* E foi com todas minhas paredes que foram ao chão que eu construí essa ponte.

* Eu te amo, vó.