domingo, 27 de maio de 2012

Ilusão de Ótica 14.

Tudo parecia uma enorme pintura abstrata onde nada acontecia, além do movimento de gente passando pra olhar.
Eu cansei de passar pra olhar e decidi ficar ali, fitando aquela gravura, pelo maior tempo possível. Suas cores eram tão vivas e constrastantes que pareciam lutar umas com as outras. As pinceladas eram tão firmes e, ao mesmo tempo, aparentemente aleatórias, que pareciam ferir a tela. Eu tecia todo tipo de comentário a respeito da obra para mim mesma, enquanto todos os outros apenas passavam desatentos, perguntando uns aos outros onde ficavam as pinturas realistas.
De real, basta o mundo. Eu quero é partir em busca do que é incógnito, improvável e incorreto. Eu vejo sentido no abstrato e, sim, muita vida no que muitos convencionaram chamar de 'natureza morta'.
O que é mais abstrato do que o amor? Ele não tem forma nem cor, mas é o que me faz parar o coração. A gente busca incessantemente essa sensação de enfartar de amor, de sentí-lo pulsando e estourando nossas veias. Que outra coisa nos leva a isso? O que mais justifica todos os poemas, todas as músicas, toda a angústia e inspiração do mundo?
Só ele, o amor. A pintura abstrata que muita gente já não aprecia mais. Em busca de retratos reais, a gente se joga nas cordas do comodismo, esquecendo o verdadeiro motivo de estarmos aqui.


Não consegui dormir, pensando nisso, e em inúmeras outras coisas. É vida em excesso. É muita informação pra uma cabeça só.