Existe uma estrada sob os meus pés. Ela termina toda vez que chego em
casa, tarde da noite. O que vejo após a derradeira parada, é o fim
desse chão. Se eu prosseguir em minha caminhada, ignorando quaisquer
placas de sinalização e advertências verbais de amigos, sou engolida por
esse infinito precipício.
E eu não paro.
A queda, até o momento, não parece ruim, embora eu não negue que me
incomoda não saber quando me chocarei com o chão. O ar, utilizei todo
ele na tentativa de gritar. Ninguém ouve. Não daqui, onde estou. Eu
poderia ficar sentada à borda desse penhasco, observando todos os que,
caminhando ao meu lado, decidiram encerrar ali suas jornadas.
Desobedeço… sempre. E, uma vez sem ar, resta a mim conferir se me
calarei com o impacto ou por apneia. Ansiedade?
E eu não paro.
E quem tentou me seguir ficou pelo caminho, por medo de um ou outro
precipício. “O que é que tem ali?”. Antes de me fazer essa pergunta, já
me encontro lá.
—
Alguém me faz parar de olhar essa foto. Alguém nada, TU.
—
Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o
que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta,
afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol
que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao
alcance dos teus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada
capaz de me apagar.
Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de
uma noite qualquer. Uma dessas em que tu vagas por aí sozinha, trocando
pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível
aos teus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na
meia-hora seguinte.
Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até
mesmo ao mais insuspeito dos teus sinais Meus joelhos doem,
guria, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor
silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio,
tenho certeza de que não me ouves.
Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.
E eu não paro. Me para.
Síndrome - {grupo ou agregado de sinais e sintomas de causa desconhecida ou em estudo ou conhecida posteriormente}
Síndrome - {grupo ou agregado de sinais e sintomas de causa desconhecida ou em estudo ou conhecida posteriormente}