...E vivido um pouco mais. A literatura de meus dias perdeu o caráter de
microconto. Virou romance que não
mais se capitula em poucos parágrafos. Muitas vezes abandonei em branco o
texto, pois olhava, míope, para dentro de mim e nada via senão o
nebuloso vulto da ulceração que ainda gritava em vermelho. Precisava
encontrar um caminho para a superfície, mas no fundo daquele poço
encontrei um par de lentes.
O romance nos desafia a convicção, por vezes tira a paciência, e pode
até nos subtrair alguns anos da vida, mas quando é que alguém, por um
segundo que fosse, cogitou – a sério – viver sem ele? Nossas aspirações
vão, cada vez mais, aproximando-se da realidade; a gente passa a
prometer menos, mentir menos, e chega até a achar que, dessa vez,
erraremos menos, por julgarmos saber onde escondem-se todas as bombas
desse campo minado. Nem preciso lembrar que a única certeza no romance é
a de se estar eternamente em apuros, saracoteando as pernas para não se
deixar afundar totalmente no obscuro e indecifrável oceano que é a vida
daquela pessoa com a qual estamos de mãos dadas.
Em apuros pois é perigoso. É perigoso porque a gente arrisca. E a
gente arrisca porque quer. Ninguém nos obriga a viver o amor, mas a
gente ama vivê-lo. Ninguém nos obriga a sentir as mesmas dores de novo,
mas a gente se quebra em mil pedaços para sentir o prazer na cura. A
gente acha que pode viver sem, mas as palavras soluçadas no fim de uma
noite ébria evidenciam o que, para todos ao nosso redor, já era óbvio:
estamos fodidos.
Em apuros não estou só eu, estamos todos nós, meus caros. Romance é o
que se persegue pelas esquinas, que foge à luz dos postes, e ele está
bem. Em perigo estamos nós, nesse apuro que reside na nossa urgência em
vivê-lo. Vivê-lo, mesmo que torto, inacabado, ferido, precipitado,
errado, proibido, ou impossível. Vivê-lo de verdade, com intensidade e
sem escudos. Como deve ser, e como inevitavelmente é, quando nosso
coração nos dá aquela única e inevitável rasteira que nos faz quicar no
chão.
Viver o romance é estar em apuros
.
Estou vivendo, e não quero ser salva.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Faz pose, garçom.
Não sei se é o Kid A rolando no repeat há 5 dias. Não sei se é fruto do ócio repentino de 2 dias inteiros prenchidos por pensamentos que me pareciam pesadas nuvens cor-de-chumbo. Também não sei se é o déficit entre a verdade que as pessoas projetam e o que realmente sou. Eu simplesmente não sei.
Também não sei se é o tempo passando, aos poucos me transformando naquilo que eu sabia que iria me transformar. Eu só não sabia quando aconteceria, nem como me sentiria. Poderia, também, ser aquele sentimento em mim depositado em doses homeopáticas. Pode ser um monte de coisa. E pode ser nada. Pode ser apenas: eu
Também não sei se é o tempo passando, aos poucos me transformando naquilo que eu sabia que iria me transformar. Eu só não sabia quando aconteceria, nem como me sentiria. Poderia, também, ser aquele sentimento em mim depositado em doses homeopáticas. Pode ser um monte de coisa. E pode ser nada. Pode ser apenas: eu
Alguém aí já se sentiu assim? Sentindo tudo?
Hora de maneirar na cerveja solitária, depois da meia-noite.
{ São 3:50 da manhã e não sei mais se eu quero dormir.}
terça-feira, 12 de junho de 2012
Síndrome
Existe uma estrada sob os meus pés. Ela termina toda vez que chego em
casa, tarde da noite. O que vejo após a derradeira parada, é o fim
desse chão. Se eu prosseguir em minha caminhada, ignorando quaisquer
placas de sinalização e advertências verbais de amigos, sou engolida por
esse infinito precipício.
E eu não paro.
A queda, até o momento, não parece ruim, embora eu não negue que me
incomoda não saber quando me chocarei com o chão. O ar, utilizei todo
ele na tentativa de gritar. Ninguém ouve. Não daqui, onde estou. Eu
poderia ficar sentada à borda desse penhasco, observando todos os que,
caminhando ao meu lado, decidiram encerrar ali suas jornadas.
Desobedeço… sempre. E, uma vez sem ar, resta a mim conferir se me
calarei com o impacto ou por apneia. Ansiedade?
E eu não paro.
E quem tentou me seguir ficou pelo caminho, por medo de um ou outro
precipício. “O que é que tem ali?”. Antes de me fazer essa pergunta, já
me encontro lá.
—
Alguém me faz parar de olhar essa foto. Alguém nada, TU.
—
Às vezes acho que me fizeram capaz de sentir demais. E emanar demais o
que é sentido, inclusive quando não faz sentido. E isso assusta,
afugenta, por chamar atenção demais. Meus pensamentos são como um farol
que não consegue se esconder na praia deserta. Ele sempre estará lá, ao
alcance dos teus olhos, te impedindo de naufragar em mim. E não há nada
capaz de me apagar.
Só queria, por meia-hora que fosse, me ver diluída no horizonte de
uma noite qualquer. Uma dessas em que tu vagas por aí sozinha, trocando
pernas, balbuciando impropérios ao vento. E ter o que eu sinto invisível
aos teus olhos. Por meia-hora que fosse, te fazer me querer sentir na
meia-hora seguinte.
Essa intensidade indesejada de sentimentos atribui imenso valor até
mesmo ao mais insuspeito dos teus sinais Meus joelhos doem,
guria, e é por essas e outras é que me atrai tanto o ensurdecedor
silêncio do vento frio me cortando a pele. Pelo menos, enquanto caio,
tenho certeza de que não me ouves.
Quase sempre eu penso que deveria parar de agir assim.
E eu não paro. Me para.
Síndrome - {grupo ou agregado de sinais e sintomas de causa desconhecida ou em estudo ou conhecida posteriormente}
Síndrome - {grupo ou agregado de sinais e sintomas de causa desconhecida ou em estudo ou conhecida posteriormente}
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